PARA ROMA COM AMOR – Em Woody Allen não dá para se cogitar o mínimo sinal de esgotamento. Para Roma Com Amor é um rico painel de histórias e tipos que flanam em dolce far niente pela capital italiana. À primeira vista, apenas uma homenagem a um certo tipo de comédia romântica que pontificou nos anos 50 e 60, a partir do delicioso Roman Holiday (A Princesa e o Plebeu, 1953), de William Wyler, filme que fez detonar o mito Audrey Hepburn. Mas o diretor norte-americano vai além: ao mesmo tempo que reafirma, atualiza aquele espírito descompromissado do romance, dispondo de princípios da narrativa pulverizada de La Dolce Vita (1960), de Federico Fellini. E mantém o traço surrealista de Luis Buñuel, citado à exaustão em Meia-noite em Paris, com um humor mais sarcástico que o habitual, para provocar um choque de culturas na Cidade Eterna. Para Roma Com Amor é um filme para não se perder de vista e sobre o qual há ainda muito o que falar. Corrram aos cinemas.
FICHA TÉCNICA
Diretor: Woody Allen
Elenco: Ellen Page, Woody Allen, Jesse Eisenberg, Penélope Cruz, Alec Baldwin, Alison Pill, Greta Gerwig, Roberto Benigni, Ornella Muti, Judy Davis
Produção: Letty Aronson, Stephen Tenenbaum
Roteiro: Woody Allen
Fotografia: Darius Khondji
Duração: 107 min.
Ano: 2012
País: EUA/Espanha/Itália
Classificação: 12 anos
Maravilhoso! Muito delicado este agradecimento de Allen a Roma, somente por existir e ser o
que é no imaginário e na cultura do mundo. As grandes cidades europeias deram o norte para os quatro cantos do planeta agora em mudança. E ele assinala os lugares pitorescos, as fontes, as escadarias, as ruínas, a música, que mesmo mostrados à exaustão continuam vivos, atuantes…encantadores, sempre renovados para quem os visita ou procura conhecer, vivenciando conflitos pessoais internos e externos que a personalidade carrega onde quer que vá, somados aos de uma população por vezes entediada do seu lugar comum que já apresenta sinais de decadência.
E agora, qual o próximo From Woody Allen with love?
Allen é um cineasta prolífero, faz um filme atrás do outro. E muitos não perdoam os artistas que estão sempre presentes, atuantes. Acho que se enfadam. E aí o erro em considerar títulos como Para Roma Com Amor e Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos como filmes menores. Um abraço, Norma: continue nos prestigiando.
Mais um filme da fase ‘Michelin’ de Woody Allen. Propostas de segmentos que prometiam, mas que foram mal desenvolvidas. Um dos mais fracos do ‘tour’ europeu do autor.
Um dos mais polêmicos Woody Allen, ao lado de Neblina e Sombras, filme admirável que mistura a um só tempo o Fellini do primeiro momento, Kafka e o expressionismo alemão e que foi massacrado na época do lançamento, no início dos anos 90. Posso estar enganado, mas gosto do tempo forquilhado de Para Roma Com Amor. Da formação de um eixo, de um bloco único, a partir de histórias que são desenvolvidas em momentos e atmosferas diferentes e jamais se cruzam. Gosto do sarcasmo buñueliano, que nos remete a O Fantasma da Liberdade, com a ideia de ter um Caruso que só consegue cantar bem no banheiro e é alçado à glória, assim, no palco e debaixo do chuveiro. Gosto da crítica não somente à mídia, mas à coisa superficial, difusa e imediata, inserida no processo que leva o homem comum elevado contra a sua vontade ao status de celebridade, de uma hora para outra, a não apenas se acostumar, mas querer e lamentar a perda disso. Gosto sobretudo de um momento específico, da garota do interior nas ruas de Roma, que, depois de várias tentativas de encontrar o hotel onde está hospedada com o marido, para, pensa e dá-se conta de que realmente se perdeu. E a câmera então, em um giro de 360 graus (não sei se em volta do seu próprio eixo), em uma belíssima panorâmica – recurso absolutamente esquecido pelo cinema de hoje -, compõe a metáfora do perder-se em Roma, ou na Itália, para depois reencontrar-se, seja lá como for, que é a essência de filmes tão díspares quanto a A Princesa e o Plebeu, A Doce Vida e uma série de outros menos honrosos que apareceram em um filão, nos anos 50 e 60, incluindo aí o famoso Candelabro Italiano. Gosto do final. Um grand finale nas escadarias da Praça de Espanha. Enfim, gosto de Para Roma Com Amor e de quase tudo que Woody Allen faz.